Uma Outra Paixão
- Tiago Godoy
- 4 de dez. de 2024
- 2 min de leitura
por Irineu Franco Perpetuo | Revista Concerto
![O Coral Paulistano durante ensaio da 'Paixão' de Arvo Pärt [Divulgação/Stig de Lavor]](https://static.wixstatic.com/media/ce88f1_ac2e836d0cea4753870ab4cb0d03ffc5~mv2.jpg/v1/fill/w_900,h_529,al_c,q_85,enc_avif,quality_auto/ce88f1_ac2e836d0cea4753870ab4cb0d03ffc5~mv2.jpg)
Paixão de Sexta-Feira Santa não precisa ser, obrigatoriamente, de Bach. No Theatro Municipal de São Paulo, Maíra Ferreira dirigiu seu Coral Paulistano no dia 7 de abril em uma bela execução de uma Paixão pouco feita por aqui: a de Arvo Pärt.
Obviamente, não se trata aqui de “cancelar” o gênio Johann Sebastian Bach (1685-1750), nem de negar o valor intrínseco de suas paixões segundo São Mateus e São João. Vale a pena retornar sempre a esses monumentos, cuja música é tão poderosa que consegue periodicamente superar o vibrato pucciniano, orquestração bruckneriana e tempos celibidachianos a que é sistematicamente submetida em nossas latitudes.
No Theatro Municipal de São Paulo, Maíra Ferreira dirigiu seu Coral Paulistano em uma bela execução de uma Paixão pouco feita por aqui: a de Arvo Pärt.
Enfim, Bach é Bach, mas alguma variedade na eterna mesmice de nossas programações é sempre bem-vinda. Embora datada de 1982 – portanto, mais velha do que vários dos musicistas que a interpretaram no palco – , a Paixão segundo São João, de Pärt, pode ser considerada uma obra contemporânea.
Aos 87 anos, Pärt é um dos mais respeitados compositores da atualidade. Ele nasceu na Estônia, quando a pequena república báltica, contra a vontade, integrava a URSS – e boa parte de sua produção pode ser explicada como resistência à dominação estrangeira e afirmação de uma voz própria. Inicialmente, praticou um vanguardismo mal visto em tempos de “realismo socialista”; teve uma crise de silêncio, para emergir, em 1977, com o estilo que o tornou mundialmente conhecido: tintinnabuli (do latim tintinnabulum, sininho). Muito mais “acessível”, a nova prática de Pärt, contudo, era igualmente incômoda para as autoridades, devido a seu fundo religioso – já houve quem, com certa razão, qualificasse o estilo do compositor de “minimalismo sacro”.



