Jocy de Oliveira e Stravinsky: noite de vanguarda no Theatro Municipal de São Paulo
- Tiago Godoy
- 27 de mai. de 2024
- 1 min de leitura
por Ana Cursino Guariglia | Revista Concerto
![Ensaio do concerto com obras de Jocy de Oliveira e Igor Stravinsky [Reprodução/Facebook]](https://static.wixstatic.com/media/ce88f1_b7bd9235250e45fa9e23e9f2df00731d~mv2.jpg/v1/fill/w_900,h_690,al_c,q_85,enc_avif,quality_auto/ce88f1_b7bd9235250e45fa9e23e9f2df00731d~mv2.jpg)
O vislumbre de futuro que uma obra de vanguarda proporciona à escuta não impede a reflexão sobre o passado de uma grande artista como a compositora Jocy de Oliveira. Seu pioneirismo no cenário musical brasileiro e sua tenaz contribuição para a divulgação da música contemporânea é fonte de inspiração. Dispensa imaginar a dificuldade de ter sido levada a sério (brasileira e mulher) por seus pares e mestres – tarefa difícil e conquistada. Por isso, nada mais justo do que ovacioná-la ao final de sua estreia mundial, Cantos Noturnos III, executada no Theatro Municipal de São Paulo no último final de semana.
A obra coloca em paralelo duas cronologias: a melodia antiga Dies Irae gradativamente surge para então transformar-se em um riff de rock. O sentido representativo da justaposição se faz latente. De oratório solene, permeado de responsórios, passamos ao drama: soprano (indivíduo?) se desata das vestes pretas e, em trajes modernos e muito brilhantes, invade a plateia, em desvario cênico e vocal, acompanhada pela banda. De volta ao palco, tenta agitar o coro (coletivo?), sem sucesso. Esgotada, desmaia. É então julgada pelo coro e pela mezzo soprano, que agora, juntos e em fortíssimo, bradam a melodia de maldição de Dies Irae (“Quanto tremor está por vir/quando vier o juiz/julgar tudo com rigor”). De fato, o ouvinte não espera tal mudança de humor. Neste ínterim, a melodia passa de lamento (como diz o subtítulo da obra) a pura violência. Impossível não pensar em Inquisição e em bruxas.



